Resenha: Prisioneiras - Dr. Drauzio Varella
- Samantha Santos
- 26 de jul.
- 2 min de leitura
Um livro que mostra o que a sociedade não vê e relata, com o olhar humanizado do Dr. Drauzio Varella, a vida das mulheres na penitenciaria de São Paulo
O Dr. Drauzio Varella é muito mais que um simples médico conhecido por boa parte dos brasileiros, ele também é um escritor, um ótimo escritor para ser mais específico. Em seu livro “Prisioneiras”, Drauzio narra o dia a dia trabalhando como médico voluntário na Penitenciária da Capital - Carandiru, onde são levadas às presas mulheres já condenadas pela justiça.
Sendo o último livro da trilogia, onde aborda o sistema carcerário do Brasil, as primeiras obras foram: “Carandiru” e “Carcereiros”, nesta terceira obra, o Dr. Drauzio se aprofunda nas vivências das detentas com um olhar humanizado e simples, ainda mais com as suas consultas diárias, se vê uma forma de conexão em conhecer cada mulher e os motivos pelos quais elas estão ali.

Voltando um pouco no contexto da minha vida até chegar a essa obra-prima, no ano em que estava para me formar na faculdade de Jornalismo, decidi que queria fazer o meu TCC sobre Fotojornalismo em um presídio feminino. Acabou que não aconteceu como gostaria, mas todos os livros sobre o tema foram uma extensão de curiosidade e uma dimensão de aprendizado
Em Prisioneiras, o Dr. Drauzio nos mostra para uma sociedade paralela nos presídios femininos, onde somos apresentados à Hierarquia Penitenciária formada pelas detentas, para manter o controle do local e a boa convivência de todas. Com o Primeiro Comando da Capital (PCC) tendo a sua representante e gerência dentro daquele território. Que é mais comum do que se possa imaginar.
Além disso, são narrativas de mães, filhas, esposas e netas, que foram condenadas pelos mais diversos crimes: assassinato, tráfico, estelionato e roubo, entre outros, contudo ainda hoje o maior índice de encarceramento de mulheres são com envolvimento ao tráfico de Drogas, e a maioria sendo mulheres negras e periféricas.
Outro assunto tratado pelo Dr. é a solidão vivida nas prisões em torno da visita da família. É feita uma comparação com as prisões masculinas, na qual as filas para visitar são sempre maiores e com a presença de esposas e mães, coisas que não existem com a mesma frequência nas prisões femininas.
Para quem já assistiu à série da Netflix, Orange is the New Black, não deve se surpreender com a presença de mulheres homossexuais na prisão, mesmo que no contexto fictício. Em Prisioneiras entendemos isso de uma maneira mais clara e literal, no contexto Brasil de ser, onde a homossexualidade está muito presente e a sexualidade não é um tabu. Vemos o relacionamento entre as detentas se formando e se desfazendo, as intrigas e ciúmes e o companheirismo onde ambas podem se fazer durante esse tempo reclusas.
O Dr. Drauzio Varella traz relatos tocantes de vida e pessoais sem nenhum pré-julgamento moral, mostrando somente o que lhe foi informado e dentro de um consultório improvisado no Presídio, que já viu e ouviu tanto das Histórias das Penitenciárias Brasileiras. Em um livro que travessa você pela sua simplicidade e verdade sem rodeios, mostrando como as coisas são de verdade nessa sociedade compartilhada somente por quem está lá dentro.
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