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Resenha: TUDO É RIO - Carla Medeira

  • Foto do escritor: Samantha Santos
    Samantha Santos
  • há 5 dias
  • 4 min de leitura

Atualizado: há 4 dias

Em seu livro de estreia, Carla Medeira entrega uma história impactante e original; em TUDO É RIO, você consegue sentir tudo que um rio desgovernado pode fazer


TUDO É RIO é aquele tipo de livro que mexe com toda a sua estrutura. Como se fosse uma correnteza de um rio desgovernado prestes a inundar tudo que conhece para transformar em uma grande tragédia. Foi isso que senti ao ler Tudo é Rio.


Capa do livro TUDO É RIO publicado pela editora Record
Capa do livro TUDO É RIO publicado pela editora Record

Carla Medeira traz em seu livro de estreia uma história totalmente original — eu pelo menos nunca li nada parecido com isso. Em 206 páginas, Carla despeja histórias comoventes, absurdas, deprimentes, cabulosas e uma transgressão de atos inimagináveis que acontece em uma cidade pequena no qual não tem nome. No meu imaginário, se passa em Minas Gerais, acredito que por algumas características inconfundíveis — posso até estar errada — mas tudo deixa com essa sensação, principalmente a forma de se expressar. 


Já de cara conhecemos Lucy, uma prostituta e, ouso dizer, que com muito orgulho de sua profissão. Órfã de pai e mãe, Lucy só tinha sua tia, Duca, na qual ela vivia antes de se jogar na vida. Todos viviam bem em casa: ela, Duca (Tia), o Tio Brando e as duas primas, Cleia e Valéria, mas sempre se sentiu um pouco deslocada, como se estivesse sobrando. Com o tempo, Lucy sentia que o seu tio tinha uns olhares diferentes para ela, e com o tempo ela foi sentindo algo mudando dentro de si. Com o desaguar do Rio, Lucy se vê sendo a prostituta mais desejada da região, onde já chega na casa da Manu, a dona do puteiro da cidade, com a sua fama consolidada. Todos os caras querem fazer sexo com ela, todavia, chega Venâncio, um homem até jovem e muito bem-visto. Lucy já anuncia que é com ele que ela quer pernoitar — já que a própria escolhe os seus homens — mas Venancio não quer Lucy de jeito nenhum.


Venâncio já foi um homem que viveu a infância se preocupando com o seu pai, José, um cara que não demonstrava amor e era agressivo. Sua mãe, Inês, se separou quando viu a oportunidade, assim Venâncio seguiu a sua vida até conhecer Dalva. A partir daí, a sua vida mudou por completo. A família de Dalva lhe abraçou como se fosse um filho, Aurora e Antônio trouxeram para a vida de Venância uma paz familiar que ele nunca teve, até os 7 irmãos de Dalva deram uma alegria para ele. Entretanto, o seu maior inimigo e maior destruidor dessa alegria seria ele próprio.


Trecho do livro TUDO É RIO
Trecho do livro TUDO É RIO

Dalva, por sua vez, teve uma família sempre unida e amorosa. Seu pai ficou receoso com esse relacionamento, mas a sua mãe, com o nome similar ao nascer do dia, vinha com uma luz para abençoar essa relação e fez toda a família aceitar. E assim foi feito, um amor que começou pelos olhares de uma moça e rapaz logo iria se concretizar em noivado, mas nesse dia Venância mostra o seu lado mais cruel, o ciúme, logo de um primo de Dalva. Naquele momento, ela já estava entregue a ele, o seu coração era dele e ela só queria casar com ele, foi um caso isolado. Ele não poderia fazer ela passar mais nada de ruim na vida. 


Tudo é Rio, é a maior personificação de que tudo que acontece de ruim pode piorar. E Carla Medeiros vai piorando conforme se lê, tem coisas que não tem como descrever, o principal ato que gira a história foi o que Venâncio fez com Dalva no dia do nascimento de seu filho. Ele espancou Dalva e jogou o bebê para longe, dando como morto. Muitas vezes, quando lemos algumas histórias, questionamos o porquê de certos personagens agirem de tal modo. Tem pessoas sociopatas por nascença e eu acredito que seja o caso de Venâncio, ele se demonstra sendo um homem agressivo desde o começo. 


Ao mesmo tempo, gosto muito de como cada personagem ao redor do ciclo principal foi feito e trabalhado, ao mesmo tempo, gostaria de ler mais sobre cada um. Mesmo sendo um livro curto entendo que ela entrega bastante informação para a construção da história, personagens como Aurora e Francisca deixam tudo mais rico e verdadeiro, sendo duas personagens extremamente opulentas de personalidades que poderiam ser mais usadas, principalmente no final da história. 


O FINAL!

 

A única palavra no capítulo 4
A única palavra no capítulo 4

De todos os finais possíveis que achei que poderia ter, o final foi algo que me surpreendeu de uma forma que fiquei refletindo por um dia inteiro. Porque, pelo indagar social, é algo que não faz sentido de forma alguma. Como Dalva foi agredida física e mentalmente, não deixou compatível com o final que a autora quis vender. O cara matou o filho deles por ciúme. Além de outras situações que me deixaram perplexa. 


Não sabia que havia uma polêmica neste livro até ler o final e buscar mais opiniões sobre, o que achei foram opiniões bem diferentes — que eu particularmente acho ótimo — porém, todos têm o consenso do horror que o Venâncio fez. O final é algo que se discute muito e eu acho que é isso que os livros têm que fazer com as pessoas. Abri rodas de discussão e tentar entender o porquê de Dalva não denunciou Venâncio desde o começo? Por que tivemos aquele final? A sociedade teve alguma culpa nisso? Enfim, abre-se um leque de pautas e debates incontáveis. 


Carla Madeira escreve de uma forma muito forte, ela sabe o que quer de cada personagem e escreve isso muito bem. TUDO É RIO foi escrito na terceira pessoa e, acredito que dessa forma, ele desce como um vinho da melhor safra, muito bem feito, muito bem narrado e meticulosamente pensado. Mesmo eu achando o final algo fora do comum, é um livro ótimo que te prende do começo ao fim.

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