Olhos D'água - Resenha
- Samantha Santos
- 17 de set. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de jun.
Conceição Evaristo trouxe para nós meros mortais e apaixonados por literatura um livro que descreve o sofrimento de uma forma tão poética que nos faz sentir a dor dos personagens.
Dona Conceição Evaristo têm as palavras em suas mãos, como diria a minha avó. E não é por acaso que digo isso, em Olhos D'Água podemos ver com maestria e com textos cheios de versos que se entrelaçam a todo momento em seus contos, mas preciosamente em 15 contos que deixa a história de mulheres e homens negros que lutam por suas vidas nos caminhos da vida.
Nos 15 contos, Evaristo mostra como a vida pode ser dura para uma pessoa negra. Já no seu primeiro texto (sendo um dos meus preferidos), ela mostra os sentimentos de uma filha desesperada em busca da cor dos olhos de sua mãe, que ela não vê faz tempo.

Com seus versos esplendorosos, Evaristo nos leva nessa busca pelas lembranças de uma mulher através do tempo, para relembrar a cor dos olhos de sua mãe, e sempre com a mesma pergunta. Mas de que cor eram os olhos de minha mãe? O motivo do afastamento de mãe e filhas é o sustento de poder levar um alimento para os irmãos trabalhando em casa de família.
Nesses 15 contos a vida e a morte são companheiros, e os versos se misturam com a dor dos seus personagens principais, as dores são expostas como uma cicatriz recém feita. Em alguns, a esperança pode ser criada no começo, com um vento de verão, mas logo é quebrada com a tempestade que temos no fim dessa estação.

Olhos D'Água são feitos para mostrar a verdade mais dura que temos em nossa sociedade, mas com um toque de compaixão, não se esqueça que a verdade ainda pode doer.
Ao ler este incrível livro, no final eu tentei procurar uma palavra no qual define todos os personagens de uma vez só, mas não encontro, a história de cada um deles é tão complexa , ao mesmo tempo, tão profunda, que após terminar cada conto da Dona Conceição, eu parei para refletir. Chocante? Essa então seria a palavra? Não, cada personagem criado pela Conceição Evaristo, é muito mais do que isso, as histórias deles estão por aí nós os conhecemos pessoalmente, vemos os seus rostos e o tocamos em cada esquina.
Seja na filha que sente a falta da mãe e esqueceu a cor de seus olhos; na mulher que teve a sua primeira festa de aniversário dado pelo seu amor bandido; pela mulher que veio do interior com os pais tentar a vida na cidade grande; da mulher que encontrou o pai de seu filho em um momento errado; a mulher que teve seus filhos entrelaçados com o destino de outros; a mulher que depois de um longo tempo sentiu um amor puro; ou uma mulher que já viveu uma vida toda, mas ainda está procurando algo; a da mulher que só quer um tempo para ela mesma; a da pequena menina que não terá mais os seus brinquedos; ou do homem que sente falta da mãe; o jovem que se envolveu com a morte; o homem que despertencia a ele mesmo; a dos jovens que fazia a suas promessas ao vento e aqueles que vem a esperança ao nascer de uma criança.
Nesta obra que será futuramente um grande clássico da literatura brasileira (em minha humilde opinião). Evaristo nos mostra as mazelas de nossa sociedade em que o racismo está sempre em evidência, sem tentar esconder as partes mais podres de uma sociedade, como o tratamento a que as pessoas negras são submetidas neste país.
Ainda refletindo sobre cada conto, Evaristo nos faz olhar para todos em nossa volta, tentando imaginar as suas histórias e como chegaram no estado atual de sua vida. Como as suas poucas escolhas afetaram diretamente o seu destino, mesmo que muitos não conseguiram escolher algo definitivo em sua vida.
Olhos D’Água, foi com certeza, um dos melhores livros que eu li na minha vida, Conceição Evaristo trouxe para a minha vida literária uma grande sabedoria através de suas palavras, versos tão poéticos que deixam tudo mais harmônico e simbólico. Conceição, é uma das minhas autoras preferidas. Indicarei Olhos D’Água para todos que houver a oportunidade.
Conceição Evaristo, sendo de Belo Horizonte, e teve que conciliar os estudos com o emprego de doméstica, quando se formou em 1971, já tinha seus 25 anos, depois mudou-se para o Rio de Janeiro onde estudou Letras na UFRJ. É mestre em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, e Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense.
Editora: Pallas
Páginas: 116
Autor: Conceição Evaristo
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